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Trabalho em Rede: Alguns Apontamentos Práticos

  • drdivinopolis
  • 2 de mar. de 2020
  • 5 min de leitura

Que atire a primeira pedra aquele que nunca torceu o nariz quando ouviu alguém dizer: “precisamos marcar uma reunião de rede!”. De repente te passou um “filme” de todas as vezes que você enviou um ofício convidando o agente de saúde para a reunião e ele não foi, de todas as vezes que você ligou pra diretora da escola e não obteve retorno sobre aquele caso que você acompanha, ou mesmo quando os poucos profissionais presentes transformaram a reunião num “jogo de empurra” e o caso que deveria ser acompanhado pela rede acabou virando um caso exclusivo da Assistência Social.


Antes de desistirem do trabalho em rede, respirem fundo e reflitam: embora a intersetorialidade esteja prevista como uma das diretrizes do SUAS e, apesar de ela estar presente em nossos discursos cotidianos, ainda não conseguimos incorporá-la na prática. Um dos motivos é a questão cultural. Não fomos acostumados a dialogar horizontalmente e ouvir o que o outro tem a dizer. Queremos que uma reunião de rede resolva todos os nossos problemas, mas nos esquecemos de que o trabalho intersetorial é construído no dia-a-dia, com seus avanços e percalços. E, principalmente: esquecemos que o cidadão é integral! Que bem educado, nutrido, saudável, com renda, com acesso a cultura está mais protegido de determinados riscos e vulnerabilidades. E que, para solucionar um problema, por exemplo, de evasão escolar, é necessário fazer um trabalho sistemático com a família, envolvê-la no processo educacional, contribuir na resolutividade de alguma violência e violação que esteja acontecendo. Ou seja, para fazer realmente nosso trabalho, precisamos pensar no município, nas famílias. E não somente na “caixinha” da nossa secretaria de assistência social ou congênere.

A própria constituição do SUAS prevê a intersetorialidade como uma forma de “atender a necessidade e não o necessitado” (PNAS, 2004). Já a LOAS prevê que um dos princípios da assistência social é justamente a “universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas” (art. 4°, II). Dois dos principais documentos que norteiam nosso trabalho recomenda essa relação com outras políticas públicas. De acordo com Braga, Henriques e Mafra (2008),


"a mobilização de diversos atores não se reduz apenas à junção de indivíduos em torno de uma ação específica, mas acima de tudo, deve pressupor: (...) a reunião de sujeitos que definem objetivos e compartilham sentimentos, conhecimentos e responsabilidades para a transformação de uma dada realidade, movidos por um acordo em relação a determinada causa de interesse público".


Quando olhamos para a mobilização dos sujeitos como resultado de relação construída cotidianamente, podemos pensar alguns pontos importantes para fortalecer essa relação:


Além da formalidade – Encaminhar um ofício convidando as referências para as reuniões de rede pode contribuir para a corresponsabilização das pessoas, mas não se esqueçam de mostrar a elas a importância de suas contribuições para a resolução dos casos e fortalecimento da rede. Nesse sentido, vale uma ligação telefônica ou até mesmo um convite presencial para reforçar a importância da participação daquela referência técnica.


Construindo Regras – No calor das discussões, as pessoas podem atropelar a fala umas das outras ou desviar a atenção para assuntos que fogem à pauta. Para evitar esses contratempos, sugerimos que o grupo construa coletivamente regras para fala dos participantes, funcionamentos das reuniões, etc. Algumas estratégias poderão ser adotadas para garantir que as reuniões sejam satisfatórias e produtivas para o grupo. Poderá ser confeccionado um cartaz com ilustração de uma foca, por exemplo, com os dizeres “Foca no Tema”. Toda vez que um grupo de pessoas fugir da pauta, o coordenador da reunião chamará a atenção para o cartaz, indicando que o grupo deverá voltar ao tema em discussão. Essa estratégia retoma o foco dos profissionais de forma lúdica e tranquila, favorecendo a manutenção de relações cordiais entre os participantes.


Conheçam o que as outras políticas fazem – Convidem as referências de cada política pública para apresentarem suas competências e os serviços que ofertam. Conhecer o raio de atuação de cada política pode ser o pontapé inicial para estabelecer vínculos de cooperação, entender as limitações (orçamentárias, de pessoal e legais) de cada setor/área e pensar soluções conjuntas para os casos.


Digam o que a Assistência Social pode fazer – Quando há um encaminhamento equivocado de outra política, nossa tendência é informar ao solicitante que aquela demanda não compete à política de Assistência Social. Baseados em legislações, estamos sempre prontos a esclarecer quais são as nossas atribuições. Mas será que não deveríamos pensar em formas de contribuir para aquela questão? Realmente, não há nada que possamos fazer? Ou poderíamos contribuir de uma outra forma?


Definam um calendário de reuniões – Se dependermos de um horário livre e vago em todas as agendas para realizarmos reuniões, estas estarão fadadas ao fracasso. Construam um calendário prévio com as datas das reuniões durante um semestre ou ano todo e apresentem para os demais, fazendo as adaptações necessárias. Ou estipulem coletivamente com o grupo um dia da semana específico para as reuniões. Por exemplo, toda primeira sexta-feira de cada mês. Eventualmente, as datas poderão ser alteradas, mas a marcação prévia permite que cada um se organize para participar.


Definam uma pauta para as reuniões – Como qualquer ação profissional, as reuniões de rede exigem planejamento. Caso contrário, correm o risco de se transformarem numa “torre de babel”, onde cada um fala uma linguagem diferente e ninguém entende nada. Consultem previamente os atores da rede e definam pautas que contemplem suas necessidades. Para que a reunião não fique muito extensa, as pautas poderão ser revezadas, ora contemplando uma política, ora outra.


Alternando a coordenação das reuniões – Diante do volume de demandas que batem à nossa porta todos os dias, talvez fique complicado assumir a responsabilidade de planejar e coordenar todas as reuniões com a rede. Nesse sentido, sugerimos que os atores da rede se revezem nesse papel para que não haja sobrecarga sobre apenas uma pessoa. Se na próxima reunião serão discutidas pautas da política de saúde, por exemplo, o planejamento e condução da reunião poderão ficar a cargo da referência técnica da pasta. E assim, alternadamente, os atores da rede vão se revezando nesse papel.


Tempo de duração – Reuniões muito extensas tornam-se cansativas e improdutivas. Definam junto aos participantes o tempo de duração das reuniões (especialistas recomendam o máximo uma hora para duração) e se esforcem ao máximo para seguir o prazo acordado. Eventualmente, pelo volume de pautas, a reunião poderá se estender um pouco. Neste caso, decidam junto ao grupo pela continuidade da reunião, ou remarcação para retomar o tema.


Registrem – Um ponto não menos importante no trabalho intersetorial diz respeito ao registro das discussões que ocorrem nas reuniões de rede. Nesse sentido, é recomendável a utilização de um livro de atas para que possam ser registradas não só as discussões, mas também os encaminhamentos definidos para cada política e as referências responsáveis pelas intervenções. O envio de um e-mail com o resumo das reuniões também é uma forma de documentar as discussões e deliberações do grupo.


Saiam do lugar comum e promovam cada vez mais espaços de diálogo – Promovam “Cafés com Debates” periodicamente para alguns níveis de servidores. Como exemplo, reúnam os coordenadores de equipamentos (diretoras de escolas, coordenadoras do CRAS/CREAS/Entidades, coordenadores de UBS, UPA, etc.) para esses eventos de 15 em 15 dias. Convidem palestrantes, incentivem também aos participantes que palestrem em algum momento. Abram espaço para que os participantes compartilhem desafios do seu trabalho na temática do encontro. Se o encontro é sobre “Gestão de desempenho do servidor público” tragam alguém que saiba falar sobre o tema e, após a fala, abra para perguntas e debates.


Identifiquem similaridades e criem laços de forma lúdica – Reúnam os servidores de outras áreas (professores e agentes de saúde, por exemplo) para assistirem filmes, documentários e entrevistas em conjunto. Existem diversos conteúdos de alta qualidade nas plataformas de streaming disponíveis. Ao final, façam rodas de discussão intersetoriais onde cada profissional passa um pouco da percepção que o filme lhe trouxe e a relação com a política pública em que trabalha.






 
 
 

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