Seguranças Socioassistenciais em Filme

Olá, pessoal!

Sentiram nossa falta?

Estamos aqui com mais uma dica de filme para auxiliar tanto no processo de reflexão das equipes que atuam na Assistência Social quanto no planejamento de atividades a serem desenvolvidas com os usuários dos serviços socioassistenciais.

A indicação de hoje é o filme Preciosa. E preciosas são as possibilidades de discussão de temas que o enredo nos provoca: relações familiares, bullying, estupro, incesto, educação, resiliência, potencialidades, e por aí vai... Temas em sua maioria difíceis, é certo, mas que impactam a vida de famílias atendidas no cotidiano dos serviços socioassistencias.

De maneira realista e tocante, o filme retrata as violações que a adolescente de 16 anos, Claireece Precious Jones, interpretada pela atriz Gabourey Sidibe, sofre em suas relações familiares. Grávida pela segunda vez de seu pai, e em uma relação conflituosa e abusiva com a mãe, a jovem é expulsa da escola e admitida em uma instituição de ensino com metodologia alternativa.

Ao longo da narração, que se passa nos Estados Unidos, o filme destaca uma série de ausências na assistência à família de Precious, evidenciando lacunas no amparo às famílias. Remetendo a história à nossa realidade, evidencia-se a importância da estruturação brasileira do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, que se pauta na proteção da família em seu território, através de serviços, programas, projetos e benefícios sociassistenciais. Para tal, a garantia de cinco seguranças socioassistenciais (acolhida; renda e sobrevivência; convivência familiar e comunitária; apoio e auxílio; desenvolvimento da autonomia) materializa a proposta da referida política pública.

Ao propormos a discussão de Preciosa com as equipes socioassistenciais podemos, dentro das seguranças acima, destrinchar possibilidades de reflexão. Como por exemplo, a segurança de acolhida, que se pauta na escuta qualificada, sem juízo de valor, realizada por profissionais qualificados, em ambiente apropriado. O filme apresenta cenas em que a escuta é realizada em espaço que não garante sigilo, por profissionais que, em alguns momentos, assumem uma postura julgadora. Problematizar essa questão entre os técnicos e a gestão pode auxiliar a qualificar a oferta de acolhimento aos usuários.

A segurança de renda e sobrevivência consiste na garantia de renda mínima às famílias em vulnerabilidade social através da transferência de recursos (sejam eles do Programa Bolsa Família - PBF - ou do Benefício de Prestação Continuada - BPC). O filme mostra que a família de Precious recebia dinheiro do seguro social, mas não evidencia ações continuadas com a família. Foi possível perceber apenas a realização de visitas pontuais à família para verificar a necessidade da continuidade de recebimento do benefício. Ressaltamos a necessidade de articulação entre a transferência de renda e os serviços socioassistencias para a superação da situação de pobreza/extrema pobreza e para a garantia de acesso a direitos, efetivando a proteção social.

A segurança de convívio familiar e comunitário, garantida no SUAS através dos Serviços Socioassistenciais, se propõe a fortalecer vínculos sociais, de identidade e de pertencimento, visando a proteção social. Durante o decorrer do filme, não é possível identificar a realização de um trabalho que pretenda fortalecer tais vínculos. Adaptando à nossa realidade, quais encaminhamentos poderiam ser feitos à família de Precious visando a garantia da segurança de convívio?

A segurança de apoio e auxílio possui caráter temporário e exige a oferta de auxílios em bens materiais e em pecúnia de forma transitória para famílias e indivíduos. Deve ser garantida em momentos de riscos circunstanciais (como situações de morte, nascimento, vulnerabilidades temporárias e calamidades), mas sempre associada aos serviços socioassistenciais. Não foi possível identificar ações dessa natureza durante o filme. Para discussão, podemos realizar o seguinte exercício: quais inseguranças sociais a família de Precious estava vivenciando que demandariam a garantia da segurança de apoio e auxílio?

Em relação à segurança de autonomia, o acesso aos direitos sociais torna-se ponto chave para o desenvolvimento dessa segurança, ao fornecer possibilidades para o exercício do protagonismo, da cidadania e da organização para a superação de situações de vulnerabilidade. O filme não deixa clara a existência de ações que visassem ao desenvolvimento da autonomia de Precious e sua família. Para discussão entre os técnicos socioassistenciais podemos propor o seguinte questionamento: quais ações poderiam ser realizadas com o objetivo de promoção da autonomia da protagonista e de sua família?

Analisar o filme a partir da discussão sobre quais intervenções poderiam ser feitas à família de Precious possibilitará que as equipes socioassistencias disponham de mais um recurso para a discussão de casos semelhantes aos acompanhados em sua prática profissional na Assistência Social. Nesse sentido, o filme também poderá ser usado em capacitações em conjunto com outros setores, como Educação e Saúde, por exemplo.

Para ações com os usuários, o filme poderá ser utilizado em uma sessão de cinema (importante observar a classificação etária indicada). Após a exibição, os técnicos poderão conduzir uma roda de conversa para discussão de temas abordados no filme a partir da percepção dos usuários presentes. Trechos do filme poderão ser usados em palestras e encontros de oficinas com famílias que proponham discutir algum dos muitos pontos apresentados no filme.

Esclarecemos que o conteúdo apresentado nesse texto se configura como uma sugestão. Os profissionais socioassistenciais e a gestão tem total autonomia para o desenvolvimento de ações embasadas no material citado.

Ficha técnica: Preciosa – Uma história de esperança (Precious: Based On The Novel Push By Sapphire)

Ano: 2009

Gênero: Drama

Direção: Lee Daniels

Classificação: 16 anos