Empoderamento e autonomia pela participação
- drdivinopolis
- 15 de jul. de 2019
- 4 min de leitura
Amanda Cristina Bento Braga (Administradora Pública, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental)
Patrícia Diniz Curto (Psicóloga, Analista de Gestão e Políticas Públicas em Desenvolvimento)
Eis que estamos em mais um ano de conferência e o que tenho percebido é um cenário de pleno desânimo pelos trabalhadores: pela ausência de recursos, pelo curto espaço de tempo que não permitiu uma execução plena das propostas, pela dificuldade do tempo (este vilão implacável!). Não é à toa que com frequência temos recebido o seguinte questionamento: realmente preciso fazer as conferências no meu município?
Os pessimistas podem se deixar levar pelo desânimo e cruzar os braços. Pois eu, pelo contrário, digo que estamos em um cenário mais que favorável para reinventar nossas relações com os usuários nas conferências! Quem aqui não se sente intimidado com aquela cerimônia de início de conferência? Com a experiência que tivemos como palestrantes podemos afirmar: toda a pompa da cerimônia é apavorante! O microfone, o prefeito ou prefeita, às autoridades compondo a mesa, uma banda para tocar o hino... tudo muito solene! É um cenário tão formal que inviabiliza o diálogo sincero, a crítica, ou a pergunta... Afinal, tudo pode virar notícia no jornal da cidade! Se isso já é apavorante pra você e pra nós, o que dirá para seu João que vem da roça?! Homem simples, trabalhador que frequentou apenas o primário e não sabe falar “dessas coisas de gente estudado”. E Dona Maria?! Como terá coragem de participar, se seu marido acabou de perder o emprego e tem histórico de problemas com o álcool?! Todo aquele povo sabe da história dela....Diante disso devemos nos perguntar: será que estamos favorecendo o diálogo?
De acordo com o caderno de perguntas e respostas “O que são conferências?” temos que:
“São espaços de debate coletivo que devem oportunizar a participação social mais representativa, assegurando momentos para discussão e avaliação das ações governamentais e também para a eleição de prioridades políticas para os respectivos níveis de governo, às diferentes organizações da sociedade civil que representam os usuários, trabalhadores e as entidades de assistência social.” (MDS,2013)
Destaco no trecho apresentado a necessidade que o caderno traz de tornar as conferências um espaço de participação. Se nosso intuito ao realizar as conferências é promover a participação do usuário, porque não ir até eles e falar a linguagem deles? Assim, poderíamos fazer as conferências, no CRAS ou nos centros onde realizamos os Serviços de Convivência, o importante é reunir o maior número de usuários possível! Também não precisamos tratar de todos os temas em uma só rodada, pois às vezes será necessário conversarmos um pouco mais sobre a política pública para que o usuário se sinta seguro para opinar sobre o tema. Afinal, se nós pedirmos agora para dar uma opinião com relação ao problema na queda do risco de investimentos país você pode possivelmente não opinar por desconhecimento do tema.
O modelo informal que estamos tratando também dispensa a contratação de um palestrante ou de uma consultoria, proporcionando aos técnicos de referência do SUAS a oportunidade de criar identificação e mais vínculos com os usuários. Em várias rodadas de discussão com menor tempo de duração pode ser menos entediante. Podemos inclusive convidar autoridades para a discussão, já que um dia de conferência é tempo demais para suas agendas apertadas. Assim podemos usar as conferências como espaços de divulgação da política pública! Ou quem sabe ainda como espaços para fortalecer nossas relações com a rede de políticas públicas municipais, convidando-os para participarem e pensarmos juntos em soluções para nossas questões. A política de Assistência Social precisa avançar muito no seu reconhecimento como política de importância básica e não podemos nos dar ao luxo de renunciarmos à essa oportunidade por contextos sociopolíticos que sempre quiseram nos calar.
Nós enquanto trabalhadores da assistência social, precisamos encarar as conferências estaduais e nacional com mais seriedade, como espaços de luta. Se estamos insatisfeitos com as condições que estão nos sendo dadas, por quê não nos organizarmos como fóruns ou comissões para gritarmos por nossas necessidades?! Ouvimos reclamações sobre um suposto comodismo dos usuários, mas será que também não estamos acomodados em nossas condições de vítimas do sistema cruel que nos esmaga?! Se esse é o espaço formal que nos está sendo dado para conversarmos, então vamos utilizá-lo!
Precisamos parar de acreditar que a história e as mudanças são feitas apenas pelos governantes. Um povo é formado por sua gente, uma política é formada por seus trabalhadores e usuários! Não depende só do nosso prefeito, gestor ou que qualquer outra função exerça a figura paterna para criar um novo cenário. Depende de nós também! E se estamos nos sentindo sozinhos e abandonados, o quê não dizer de nossos usuários?! Precisamos dar as mãos para eles e caminharmos juntos, afinal a redução ou o fim da assistência social trará prejuízo mais para eles, do quê para nós e se eles ainda não sabem opinar sobre o assunto, nós enquanto indivíduos despertos para a realidade precisamos fazer isso!
Talvez querer todo este movimento para as conferências deste ano seja demais. Afinal, há muito que conversarmos e muitas vezes, não estamos trazendo a discussão da política de Assistência Social para nossos serviços, permitindo e fomentando que as(os) usuárias(os) se apropriem desse conhecimento, com tempo, com cuidado, com uma linguagem acessível e no cotidiano de suas vidas. Os processos de autonomia e empoderamento não ocorrem de uma hora para outra, necessitam de um percurso, de amadurecimento e os serviços da Assistência Social precisam se apropriar do seu papel como estimuladores e garantidores do exercício da cidadania. Entretanto iniciemos esta jornada agora! Façamos desta conferência o primeiro passo para esta jornada de empoderamento de todos nós.
Commentaires